Passaram-se 127 anos do martírio dos operários de Chicago.
Em 1886, operários foram assassinados a mando da justiça dos Estados Unidos da
América porque lutavam pela redução da jornada e por melhores condições de
trabalho.
Desde então, trabalhadores do mundo inteiro se reúnem no dia 1º de maio
para não deixar que tal sacrifício caia no esquecimento, como quer a burguesia
responsável pelo martírio. Os exploradores usam de todos os meios possíveis
para que essa data seja transformada em dia de lazer, de festa, recheada das
várias formas de circo, como shows custeados pelas grandes empresas (as mesmas
que exploram os trabalhadores).
Mais grave é saber que tais shows são organizados por Centrais Sindicais
vendidas ao capital. Torneios de futebol e de outros esportes são patrocinados
pelo mundo inteiro, visando apagar a memória da classe trabalhadora. O que mais
importa ao capital é que as novas gerações de trabalhadores permaneçam à margem
da História da resistência de seus irmãos de classe, desta classe em luta
permanente contra a cada vez mais cruel exploração de sua força de trabalho.
Com isso, tentam jogar também para a lata do lixo a memória dos
trabalhadores que continuam sendo assassinados a cada dia, seja pelas balas das
polícias e jagunços, com omissão dos governos federais, seja pelas péssimas
condições de trabalho e de segurança.
Desigualdades crescentes
Se no mundo inteiro o capital entrou em nova fase de sua curta história,
avançando na ação política para eliminar as conquistas operárias alcançadas com
muito sangue ao longo de pouco mais de dois séculos, em nosso país, em
particular, este ataque se mostra realmente feroz. O Brasil, tendo se
transformado numa das grandes forças produtivas do mundo, se transformou também
no país das maiores desigualdades sociais do planeta.
Ao lado de empresas e empresários riquíssimos, encontram-se milhões de
pessoas em condições de miséria absoluta e ou relativa – que sobrevivem do que
sobra nos tristes lixões ou com os miseráveis R$ 70,00 que o governo lhes
concede como esmola –, para que não reclamem por justiça social. Ou ainda
sobrevivendo com o miserável Salário Mínimo decretado sem nenhum escrúpulo
pelos nossos governantes.
As desigualdades se expressam também nas relações entre eleitos e
eleitores. Parlamentares e políticos em geral tiram dos cofres públicos, a
título de salários, em torno de R$ 26.700,00, enquanto “concedem” R$ 678,00
para quem produz as riquezas deste país. Uma relação criminosa de 40 vezes o valor do salário mínimo. Porém, a relação
é muito mais injusta porque cada parlamentar conta com muitas outras regalias
que não são reveladas ao povo eleitor. O que não dizer das benesses que muitos
recebem das grandes empreiteiras, por exemplo?
Eliminação e negação dos direitos básicos
Da mesma forma que na Europa, o governo brasileiro vem eliminando direitos
da classe trabalhadora, sonegando receita para os serviços essenciais (saúde,
educação, saneamento, entre outros), enquanto concede gordos benefícios para o
empresariado sedento por lucros exorbitantes à custa do mesmo dinheiro público.
Após 70 anos da Consolidação das Leis do Trabalho, 18,6 milhões de
trabalhadores se encontram na informalidade. São quase 19 milhões de
trabalhadores que não são atingidos pelos direitos assegurados em lei. São
também 20% da mão de obra do país que não contam ainda com carteira assinada
(fonte: IHU UNISINOS). Há ainda 15,2 milhões que vivem do próprio trabalho, sem
qualquer proteção social, porque não têm como contribuir com a Previdência
Social. São tratados como coitados ou marginais.
Estado politicamente falido
Todas essas mazelas são também o resultado de um Estado criado e mantido a
serviço dos interesses dos proprietários de terras, de fábricas, do grande
comércio e, hoje, sobretudo, para defender os interesses do chantagista e
agiota sistema financeiro global. Foram constituídos Estados que, em vez de defender
os interesses do conjunto da sociedade, atuam como força repressiva, esmagando
as legítimas reivindicações dos povos. Um Estado que precisa ser deslegitimado
e substituído por outros modelos, que estejam sob o controle e a serviço de
todo o povo.
O sindicalismo superado
Assim como em outras partes do mundo, no Brasil também as Centrais
Sindicais se acomodaram, seus dirigentes se tornaram “dirigentes sindicais
profissionais”, permanecendo no topo das suas estruturas, fazendo o jogo sujo
dos interesses do capitalismo predador, gozando de um padrão de vida que causa
inveja a muita gente da chamada Classe Média Alta. Para enganar suas bases,
promovem atividades do “faz de conta que lutamos”, mas que não mexem em nada
nos interesses das grandes empresas.
É mais fácil promover encontros de “trabalhadores” em Brasília, com muita
mordomia, com despesas pagas e tudo o mais - aparecendo para a mídia teatral -
do que mexer com a produção capitalista, que continua sem interrupção. Tais
dirigentes profissionalizados, porém, mostram competência para fazer longos,
repetitivos e cansativos discursos. Esse comportamento me faz lembrar as
advertências de Jesus aos poderosos de sua época: “Ai de vocês,
doutores da Lei e fariseus hipócritas! Vocês exploram as viúvas e roubam suas
casas e, para disfarçar, fazem longas orações!”. E a
grande mídia faz eco a tais enganações, dos governantes e do peleguismo
oficial.
Desafios atuais
Assim, entre os desafios para a classe trabalhadora, hoje, estão: tomar
consciência do que é este modelo de sindicalismo corrompido e corrupto, criar
novas formas de organização dos trabalhadores e assumir sua tarefa como
protagonista das mudanças estruturais que nos vêm sendo negadas há longos anos.
Assim como é urgente que trabalhadores e seus familiares, enquanto isso, se
engajem nos movimentos populares independentes para exigir políticas públicas
que garantam condições de vida com um mínimo de dignidade humana.
Dessa dupla dimensão de engajamentos e das ações sociais poderão, com o
tempo, nascer novos e revolucionários instrumentos de lutas que deverão
promover as transformações políticas, econômicas, sociais e culturais,
colocando a política oficial sob rigoroso controle popular.
Waldemar Rossi é metalúrgico aposentado e coordenador da
Pastoral Operária da Arquidiocese de São Paulo.
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