Durante três dias, 30, 31 de
outubro e 1º de novembro, os trabalhadores filiados ao sindicato tiveram a
oportunidade de enriquecer seus conhecimentos sobre fatos que aconteceram
durante os quatro anos da Guerra do Contestado, e que influenciaram diretamente
toda uma regia, além de a vida dos trabalhadores catarinenses até os dias
atuais.
Foram discutidos desde os
aspectos históricos que interviram no comportamento dos trabalhadores e no
desenvolvimento daquela região, como as relações de trabalho existentes e a
escravidão, que infelizmente continua sendo uma realidade em todo o mundo.
Compreender fatos da nossa
história nos possibilita perceber como foram construídas diversas situações que
interferem diretamente no dia a dia da sociedade, para o bem ou para o mal, e
nos remete a pensar e discutir as condições que queremos para o nosso país
daqui há 200 anos.
Para o historiador
Eloy Tonon, a guerra do Contestado foi o maior movimento social político,
econômicos que ocorreu no estado. Porém, a busca pelos fatos históricos que
ocorreram na época, esbarra na dualidade das informações. “Os jornais interferiram
na narrativa histórica com deformações”, conforme os interesses políticos da época,
que certamente não eram defender os verdadeiros donos daquelas terras, o povo caboclo,
sertanejo.
Para os historiadores que participaram do
VII Congresso do Sindaspi, como o mestre Tonon, que é doutor em história, “O olhar do historiador não pode fugir
das mortes, permanências, mudanças, sem esquecer que cada época, cada geração
elege seus valores, escamoteia suas ordens, realça suas transgressões”. Verdade
seja dita, a guerra foi sim um massacre do povo nativo que vivia pacificamente
naquela região, mais uma vez, a história nos prova que o caminho para a chamada
civilização é povoado de mortes, dor e destruição.
Uma história cheia de misticismo
As pesquisas
de campo, através de anotações, de diários de guerra, e, através das histórias
contadas pelo povo que sobreviveu ao massacre do Contestado, mostram personagens
históricos frutos de seu tempo, uma época de monges (mais de 50 na região) que
desempenhavam a religiosidade na inexistência de padres. Os monges mesclaram vários aspectos do culto
cristão, as romarias, preces, penitências e festas com alguns ritos que
pertenciam ao universo mágico-religioso.
As Irmandades Místicas existentes na época tornaram os sertanejos
sujeitos da própria história em que lutaram em busca de uma cidadania. Este
povo foi um exemplo emblemático de ruptura com a ordem vigente em busca de um
reino imaginário de justiça, harmonia, fraternidade e igualdade. Alguns historiadores
afirmam ter sido o berço do nascimento do MST (Movimento dos Trabalhadores Sem
Terra).
O progresso traz consigo o sofrimento
A chamada modernidade republicana concedia benefícios
e regalias apenas para os coronéis, oligarquias, empresas e imigrantes
estrangeiros. Tudo para conquistar regiões ricas ainda desabitadas e levar a
“civilização” e o “progresso”. Nossa
mata atlântica é devastada, a dita civilização chega com o trem, que serve tão
somente para levar toras e toras de madeiras de lei para o exterior. Progresso?
Só se for para os exploradores.
Segundo os sertanejos,
para as pessoas que viviam muito bem restaram
a morte “sem motivo aparente”, numa região antes coberta de floresta, devastada
com a chegada da empresa madeireira norte americana Lumber. “Como foram
bandidos os governos que massacraram um povo pacífico, religioso e ordeiro”,
diriam os nossos caboclos. As heranças do Contestado não foram tão nobres
assim...
Para o
professor da UNC, Alexandre Assis Tomporoski, os movimentos grevistas que
ocorreram na estrada férrea do Contestado são o início do movimento sindical na
história do Brasil, pois muitos dos trabalhadores viajam por todo o país construindo
estradas, repassando as informações de cada região, tendo condições de formar uma
organização nacional de trabalhadores. A guerra do Contestado inicia a história
sindical no Brasil.
Certamente, o VII Congresso do
Sindaspi nos provou que conhecer melhor o nosso passado é a única forma de
garantirmos um pouco mais de sabedoria para evitarmos erros no presente e
futuro.
* Atenção: Em breve, serão disponibilizados os vídeos, que estão sendo
processados e reduzidos para possível visualização via Internet. Quem desejar o
material gráfico utilizado pelos palestrantes durante o Congresso solicitar via
e-mail imprensa@sindaspisc.org.br
* Mais fotos no facebook do Sindaspi/SC ou para solicitar fotos específicas através do e-mail imprensa@sindaspisc.org.br com a jornalista Cris Mohr.
* Matéria baseada nas palestras
realizadas nos três dias de Congresso, realizada pelos historiadores. Disponibilizamos
abaixo a sinopse de seus currículos:
Eloy Tonon
Possui
graduação em Artes Práticas pela Universidade Regional do Noroeste do Estado do
Rio Grande do Sul, graduação em História pela Faculdade Estadual de Filosofia
Ciências e Letras de União da Vitória e Mestrado em História Social pela
Universidade Estadual do Centro-Oeste. Doutorado em História pela Universidade
Federal Fluminense. Atualmente é professor do Departamento de História da
UNESPAR - campus de União da Vitória.
Ilton Cesar Martins
Possui
graduação em História pela Faculdade Estadual de Filosofia Ciências e Letras de
União Vitória, onde também obteve o título de especialista em História do
Brasil. É mestre em História: Cultura e Poder pela Universidade Federal do
Paraná, e doutor pela mesma linha de pesquisa em 2011. É professor Adjunto na
Universidade Estadual do Paraná - UNESPAR, campus de União da Vitória. Dedica-se
aos estudos sobre a escravidão negra na Província do Paraná, especialmente a
questão da criminalidade escrava e a questão da lei e justiça.
Alexandre Assis Tomporoski
Possui
graduação em História pela Universidade do Estado de Santa Catarina, mestrado e
doutorado em História pela Universidade Federal de Santa Catarina. Sua atuação
concentra-se nas áreas de história do Contestado e história do trabalho no
Brasil. Atualmente é professor do Programa de Mestrado em Desenvolvimento
Regional e de diversos cursos de graduação da Universidade do Contestado (UnC),
campus Canoinhas, onde também coordena o Núcleo de Pesquisa em História
Fernando Tokarski
Professor,
escritor, jornalista e pesquisador de História Regional. Integra a Academia de
Letras Vale do Iguaçu (União da Vitória-PR), ocupando a cadeira 31, cujo
patrono é Cyro Ehlke. É especialista em História do Contestado, História
Regional e genealogia, com amplas pesquisas nesses temas. Professor da Universidade
do Contestado (UnC), lecionou as disciplinas História do Contestado e Geografia
Humana.
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